E sou o lobo inevitável

“Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor.



Para que te servem essas unhas longas?
Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem.




Para que te serve essa cruel boca de fome?

Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada.

Para que te servem essas mãos que ardem e prendem?
Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto – uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir.”



Clarice Lispector
– Felicidade Clandestina.

1 comentários:



Ana P disse...

Clarice é genial

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